quinta-feira, 13 de agosto de 2009

As Respostas da Religião

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Uma pessoa pode até não ter uma religião com a qual se relacione na forma de devoto, seguidor e/ou ativista, mas alguma coisa ela terá em seu lugar. Algum hobby qualquer que substituirá a religião ou ao menos amenizará o sentimento de vazio deixado pela falta da espiritualidade. 

A espiritualidade, ou seja, as religiões como um todo, preenchem um espaço enorme do nosso ser, psicologicamente falando, que é criado por duas habilidades da nossa mente, que por natureza, são inquietas e desenfreadas. Elas surgem o tempo todo em nossas mentes, se não a mantivermos ocupada. E agindo em conjunto, elas possibilitam todas as maravilhas que a humanidade já criou, na arte, na ciência e na religião. São elas a criatividade e a curiosidade.

Quando crianças, ainda no alvorecer destas habilidades natas de todo ser humano, estamos sempre perguntando o motivo de as coisas serem como são, de estarem onde estão e uma imensa de outras questões às vezes até inconvenientes. Que criança ao olhar para um objeto nunca antes visto e que chama a sua atenção a ponto de observá-lo por algum tempo não indaga, ao primeiro adulto por perto, “o que é isto?” Coisas interessantes acontecem nesta situação, se o objeto em questão for algo muito complexo para explicar (como um barômetro) ou se for algo cuja finalidade não seria apropriada para a criança (um caixão por exemplo). 

No primeiro o adulto disposto a responder tal questionamento tende a refletir no sentido de encontrar uma resposta apropriada, que não gere mais dúvidas ou que abra caminho para uma conversa com a qual ele não está confortável para discutir com uma criança, e usando de sua criatividade, inventa uma utilidade que satisfaça a curiosidade da criança e assim encerrar o assunto (relógio e uma caixa grande, digamos). O interessante disto tudo é que a criança se satisfaz com esta resposta. Ela precisava apenas de uma reposta, independente do tão simplista que esta venha a ser, e logo, sai pulando e cantando, já que não precisa mais gastar sua energia mental na tentativa de descobrir o que é tal coisa, e poderá continuar a brincar.

Parece que com o tempo as crianças passam a ser menos curiosas e mais criativas já que perguntam menos. Além é claro de já ter respostas para muitas coisas simples que já foram explicadas durante sua vida, talvez, elas tenham em sua mente matéria prima suficiente para criar suas próprias teorias de para que servem as coisas. Um caixão pode virar uma piscina e o barômetro um relógio mesmo (talvez uma criança pude-se nos dizer outra utilidade aparente para aquilo!). O problema é que a criatividade não se limita a ficar criando respostas para todas as indagações da curiosidade, e ultrapassando o próprio limite das dúvidas existentes e se aprofundando em suas próprias reflexões, a criatividade, agora agindo em conjunto, passa a criar dúvidas ainda mais complexas. Nesta fase as crianças entram em entraves filosóficos com os adultos que estejam dispostos a explicar, chegando as vazes a perguntas, que mal sabem elas, nunca serão plenamente respondidas.

Tal relação, da criatividade para satisfazer a curiosidade, tende a se repetir também na fase adulta. Acontece que nesta fase alguns se tornam mais criativos e outros, a grande maioria, mais curiosos. A criatividade só gera frutos devido à própria curiosidade da pessoa, que procura entender o motivo de as coisas acontecerem, gerando espaço para surgir teorias explicativas. A criatividade atua também, para os que a tem em melhor desenvoltura, no sentido de satisfazer a curiosidade dos outros, que necessitam das mesmas respostas, porém, não tiveram vontade ou mesmo capacidade de inventar as suas próprias. É ai que a espiritualidade age como calmante, apresentando respostas para quaisquer dúvidas intrigantes que a curiosidade insiste em saber. Inegável são as diversas contribuições, tanto ao individuo quanto a sociedade, advindas das religiões, que satisfazem tal necessidade humana por suas explicações. Porém, é inegável também o fato de que são obras de criativos para satisfazer curiosos

Muitas respostas prontas para questionamentos como: Porque estamos aqui? Para onde vamos depois de morrer? São como as respostas que damos a nossas crianças, quando estas nos questionam algo complexo de mais e apenas falamos algo que ela entenda e satisfaça sua curiosidade. Depois de respondido, sem ter de gastar nossas energias mentais na tentativa de compreender, podemos continuar a fazer as coisas que os adultos fazem.

Mas se a pessoa não tiver a mesma disposição para se conformar com estas respostas prontas? Ou se a pessoa não tiver tantas coisas mais importantes e divertidas para fazer e ao se deparar com tais explicações, coloca-se a refletir sobre elas? Bem, este normalmente é o papel do filósofo que tende a questionar mais do que responder, muitas vezes até, solucionando problemas com estas questões, já que demonstra que as perguntas anteriores eram menos relevantes que estas que ele propôs (estilo Socrático). Em outros casos pode ser que a pessoa usando, de sua criatividade, crie soluções mais bem elaboradas aos questionamentos dos curiosos, apresentando respostas mais complexas (neste caso, entenda-se curiosos como humanidade em geral). Ai talvez entre a ciência.

Para onde vamos depois que morremos?

– Se fomos boas pessoas durante a vida, vamos para um mundo bem melhor.
Diria a religião.

– Por que preocupas com a morte ao invés de preocupar-se com a vida?
Diria a filosofia.

– Até onde sabemos, a morte biológica encerra também toda a atividade consciente, logo para lugar algum!
Diria a ciência.

Não é de se admirar que, normalmente, não seja na ciência que se procure respostas para certos questionamentos.

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