Este questionamento parece surgir em pessoas amarguradas, pessimistas ou algo do gênero. Para se indagar se o mundo é um lugar cruel, a pessoa provavelmente deve ter passado por algo que julga ser uma crueldade. Algum tipo de frustração muito grande, que nos leva a pensar que estamos sendo prejudicados.
Mas o fato é que o mundo não é um mar de rosas. Não é um conto de fadas. Não é um pais das maravilhas. E graças a Deus (melhor expressão da língua portuguesa) que não o seja.
Se as coisas acontecessem como a gente gostaria, sempre, a vida não teria a menor graça. A graça é justamente o desafio. O imprevisível é a graça. E quando conquistarmos algo, mesmo apesar de todas as dificuldades, o orgulho da realização é indescritivelmente maior! E vale a pena, muito a pena.
"O universo não foi feito a medida do ser humano, mas tão pouco lhe é adverso, é lhe indiferente."
- Carl Sagan
"A natureza não é cruel, apenas implacavelmente indiferente. Esta é uma das lições mais duras que os humanos têm de aprender."
- Richard Dawkins
Considerando como válida a premissa da indiferença do Universo e da Natureza, expostas acima. Temos que muitas vezes acreditamos que o mundo seja um lugar cruel, pois cada ser humano, tem seus próprios desejos. Ninguém está aqui para servir ninguém e é muito comum que os desejos e aspirações de cada um, entrem em conflito com os dos demais. Neste momento surge o embate. Por isto ocorre traições, brigas, mentiras, roubos e toda a sorte de decepções. A teoria religiosa para explicar isto é o Livre Arbítrio. A ciência chama de instinto de preservação. O fato é que o ser humano, assim como um animal selvagem, tem em conta primeiro a auto preservação, se alimentar, se proteger, se reproduzir. E estas vontades são instintivas, e muito mais fortes que a razão. Junto com elas, carregamos muitos medos e estes medos, influenciam nossa razão, nos fazendo estar sempre alertas, e ao menor sinal de perigo, nós atacamos ou fugimos.
Talvez por isto, seja tão bom quando duas pessoas abrem mão de seus desejos individuais para buscar o bem comum. E para explicar este algo tão forte que acontece em determinados momentos da nossa vida (as vezes por uma vida inteira), é que criamos a palavra Amor. Amor de mãe, contraria toda esta explanação do individualismo acima. Eu poderia dizer que espécies onde mães (e demais membros) não cuidavam de seus filhos, não deixaram descendentes e desapareceram da face da terra. Mas independentemente da explicação, o fato é que este amor existe. E o seu valor está no fato que nem todos se amam.
É a raridade que faz o valor.
É comum com o passar dos anos, que muitas das crenças que norteavam nossas juventude, passem a ser questionadas. Quando chegamos a certa idade passamos a desacreditar em muito daquilo que acreditávamos serem certezas absolutas na juventude, talvez até achando que antes eramos imaturos. As experiências que se somam no decorrer da nossa história, vão criando novas visões do mundo, vamos aprendendo coisas novas e adquirindo convicções mais complexas. Passamos a entender que ignoramos muito e que sabemos pouco. Mas a Fé é algo inerente ao ser humano. É a Fé que nos fez dominar o mundo. É a fé que nos tirou das cavernas, nos fez cruzar fronteiras, dominar os oceanos e continentes, domesticar outros animais, subjugar (ao menos parcialmente) a força da natureza, inventar a arte e viver os sonhos que vivemos.
Todos temos fé. A fé é o combustível que alimenta nossos esforços em direção aos nossos sonhos. Nunca devemos perder a nossa sua fé.
O que podemos fazer? Bem, o que eu faço é tentar buscar a sabedoria. Puxar a responsabilidade da minha vida. Não contar com os outros. Acreditar (ter fé) que eu posso realizar meus desejos, todos eles, e lutar por isto. Faz tempo que não coloco na mão de ninguém a minha felicidade. Gosto de ter ela nas minhas mãos. Assim me protejo. Gosto de deitar a noite e saber que eu fiz o melhor que eu pude. Que tento a cada novo dia, ser uma versão melhor de mim. Sei que o relógio trabalha contra, e a cada novo segundo, estou chegando mais perto da morte.
Mas é o fato de saber que estou correndo contra o tempo, que as areias da ampulheta da vida nunca param de escorrer, independentemente de eu estar dormindo, trabalhando, estudando, me divertindo ou fazendo qualquer coisa... o tempo está se esvaindo.
Então, não posso perder tempo com nada.
Tenho que aproveitar cada segundo. Mesmo que aproveitar seja não fazer nada, só contemplar.
Desisti de ser feliz para sempre. Acho que a vida é feita de momentos felizes. O que define nossa vida é o que fazemos entre um momento de felicidade e outro. E eles se tornam cada vez mais frequentes, quando temos consciência da volatilidade dos nossos anseios, e assim nos decepcionamos menos. Quando agimos de acordo com nossos princípios, e assim podemos dormir em paz com nós mesmos.
Mas principalmente, quando nosso foco não é a nossa felicidade e sim a dos outros. Neste raros momentos, onde esquecemos de nós mesmos, é que somos mais felizes.
"Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem."
- Lao-Tsé
Sabendo que não posso ser feliz para sempre, suporto melhor a não felicidade. E tento aproveitar o máximo as oportunidades de ser feliz. Sabendo que não posso viver para sempre, valorizo mais a minha vida, aproveito a sorte grande de estar aqui, e tento fazer o melhor que posso com o pouco tempo que eu tenho.
Óbvio que eu não sou um cara tão centrado. Apenas, tento na medida do possível, não me deixar levar pelas emoções, atuando conscientemente na minha vida. Posso estar completamente errado e cego para outras visões do mundo. Mas mesmo sabendo que posso estar escolhendo o caminho errado, eu continuo. É ai que entra minha fé.
