segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Princípio de Todas as Coisas (Hans Kung)

No princípio, era a singularidade. O que seria esta singularidade?

É comum pensarmos que a ciência e a religião são maneiras diferentes de tentar explicar o mundo, o que é verdadeiro, e por pernsarmos assim, acreditamos também que elas devem seguir caminhos opostos. Pelo fato de, normalmente, seguirem caminhos opostos, muitos de seus seguidores (tanto da religião quanto da ciência) também seguem caminhos opostos. Acontece que normalmente tais seguidores tendem a se afastar drasticamente uns dos outros. Também é comum entre os fundamentalistas, de ambos os lados, menosprezarem fortemente quaisquer idéias dos adeptos do outro 'caminho'.

Todas as culturas tem sua lenda da formação do universo, de como tudo surgiu e do motivo de todas as coisas existirem. Quem divulga as origens da criação são os Sacerdotes, das diversas religiões que já existiram. São eles, os detentores dos mais elevados conhecimentos (as vezes atribuidos a uma origem divina), que narravam o surgimento do universo, sempre afirmando que suas respostas eram as verdadeiras. Atualmente a nossa cultura (dos tempos Contemporâneos) acredita que tem as repostas, mais próximas da verdadeira origem do Universo, que o homem jamais teve em toda a sua história. Isto se deve, pelo fato de que pela primeira vez, acreditamos em uma lenda de criação que é pautada em observações e experiências. Esta lenda nos é contada pelos  modernos sacerdotes, mais conhecidos como cientistas.


Um físico, consciente das teorias modernas de criação do universo e de como surgem as estrelas e sistemas planetários neste contexto, não pode mais acreditar na narração bíblica que é muitas vezes divulgada como literalmente verdade sobre o surgimento do nosso planeta terra. Da mesma forma, um biólogo tem a sua disposição uma teoria que explica a evolução das espécies, e conhece a semelhança pequena entre a informação genética do homem e um inseto, porém sabe que muito maior é tal semelhança entre o homem e um Chipanzé. Assim parece-lhe impossível crer que o homem pertença a algum projeto especialmente arquitetado, o qual o diferencia tanto assim dos demais seres de nosso planeta.


Para os fundamentalistas das ciências naturais, que a colocam em contraste total os conhecimentos científicos e qualquer tipo de crença metafísica (principalmente as grandes religiões de Abrão) utilizando como argumento a falta de atualização dos religiosos em geral, é recomendável o livro de Hans Kung, O Principio de Todas as Coisas, (Ed. Vozes, 2007). Neste livro o professor de teologia, faz uma leitura breve dos atuais conhecimentos científicos desde suas origens e em todos os campos das ciências naturais, desmascarando sim todas as, hoje inadmissíveis, inverdades pregadas pelas religiões, porém deixando alguns pontos para serem refletidos por aqueles que desprezam a religiosidade a priori.






Uma das grandes jogadas do livro, que humildemente respeita e admite muitos avanços do conhecimento cientifico que acabaram por desmistificar muitas teses religiosas, esta no fato de delimitar um campo de atuação para ciência. Pode o cientista, argumentar algo sobre a existência ou não de um ser divino? O emérito e polemico sacerdote da Igreja Católica, questiona com que autoridade um Físico ou Biólogo pode afirmar que não exista um ser que cientificamente não pode ser negada sua existência.



Seria a ciência competente para julgar os objetos da religião? Podemos nós, seguindo o caminho da ciência, desconsiderar toda e qualquer metafísica ou religiosidade, pelo fato dela nos revelar que as antigas tradições estavam erradas? (ou pelo fato de os homens que lidam com as tradições terem distorcido-as e manipulada-as?). Não seria a ciência a mais nova ferramenta do homem, no sentido de vislumbrar a maguinitude do universo, que é muito maior que todas as visões religiosas sempre lhe atribuíam, e sendo assim muito mais admirável.



Algumas questões interessantes são levantadas, para todos aqueles que não enxergam uma vida cientifica produtiva, direcionada por uma forte fé religiosa. Hans Kung, se pergunta se o povo oriental (budistas e de outras religiões) ficam intrigados ao verem tantos avanços do conhecimento humano moderno, terem saído do berço do mundo ocidental principalmente entre os cristãos e judeus. E o que isto significa exatamente?



Melhor ainda, se torna ‘O Principio de Todas as Coisas’ para aqueles que julgam, com maus olhares, os que fugiram das tradições por compreenderem que muitas vezes é impossível conciliar os conhecimentos das ciências naturais e os avanços tecnológicos com as pregações religiosas em geral. Ainda assim, neste livro, a religiosidade esta intocável sendo ela um direito de escolha individual, e que deve ser respeitado.

Não existe a pretensão neste livro de impor a verdade. São demonstrados os erros, limitações e discordâncias que existem entre as próprias ciências naturais. Alguns paradoxos são avaliados como a tentativa de descrever as leis que regem o acaso, por exemplo. Mas nunca objetivando simplesmente colocar um Deus nas lacunas destes conflitos. Sendo que é como religioso e não como cientista que Hans, nos pergunta: Qual o prejuízo de, aceitando a ciência, também aceitar a Deus?


(em homenagem especial para Fernanda Freitas)

 

Um comentário:

  1. Deus é concebido a partir de cada qual. A pergunta não deveria ser se você acredita em deus. Deveria ser: Você tem uma concepção, em algum nível, formulada para esta palavra?
    E mais, esta palavra está presente de maneira recorrente em sua vida?
    Somos apenas pontos de percepção, únicos e dinâmicos.
    Se a palavra deus é seu mantra mais forte, muitas coisas se remeterão a ele. Se a indifereça é sua moeda, será muito menos atingido ou influenciado.
    Se o significado não existe, não há influência, não há opnião, não há deus.

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