terça-feira, 20 de outubro de 2009

Direito de escolha... (Bilhões e Bilhões)



Alguns dos mais diversos tipos de sentimentos que brotam no vale da mente humana parecem ser de uma origem divina, que foge das regras físicas de um universo material. As belas palavras de um poema, as notas de uma perfeita sinfonia ou a imagem de uma pessoa amada, fogem as regras matemáticas e se apresentam como que provenientes de uma fonte de amor sobrenatural. A própria habilidade de ter consciência de sua existência, confere ao intelecto humano uma originalidade que aparentemente o coloca em uma posição que o distingui de tudo o resto que o cerca. Além disto, são muito belas as histórias religiosas que explicam a origem desta consciência individual do homem. Essas histórias que tentam explicar a existência deste ser pensante, justificam sua origem em algo que também não obedeça às regras conhecidas do mundo. Dizem que a mente (ou espírito) pertence a outro mundo e que para lá retornará após a derradeira despedida deste, que apenas temporariamente habita. Segundo estas histórias também, existe um outro ser, que compartilha algumas das características da mente humana, que também não foi criado a partir da matéria do universo, mas ao contrário, ele é que criou todo o universo, com todas as suas regras de funcionamento e tudo que nele existe, inclusive, criou a mente humana. Seria este ser a fonte ultima do amor, e dele emana toda a perfeição. Por outro lado, existem outras versões que tentam explicar a origem da mente humana e suas diversas habilidades. São as teorias cientificas, ligeiramente mais complexas e, dependendo da perspectiva, bem menos elegantes, porém, do seu modo, também tentam justificar a consciência do homem. Nas versões cientificas para o surgimento do intelecto do homem, porém, tudo que o compõem, obedece as mesmas regras as quais está sujeito todo o resto a sua volta. 


Muito difícil, se mostra, assumir uma defesa das teorias cientificas em detrimento das versões religiosas, quando o próprio princípio da ciência exige reprodução em laboratório como um pré-requisito para validar seus argumentos. No atual estagio, a ciência não pode reproduzir (mal pode explicar) as habilidades da mente humana. A melhor tentativa, por assim dizer, são os computadores. Em alguns aspectos eles conseguem reproduzir algumas das habilidades da mente humana, porém, estamos muito longe de dar a estas maquinas, o que chamamos de inteligência artificial (que seria o poder de escolha aleatória e consciente para o computador). Qualquer um que se aprofunde no tema, terá sempre a seu dispor esta qualidade (que, ao menos, atualmente não está ao alcance dos computadores) que é a de poder escolher, neste caso, escolher em que acreditar. Aliás, escolher é o principio básico de todas as religiões, o escolher crer, ou seja, ter fé. 


Cada um deve fazer a sua escolha conforme suas convicções e este é um direito de cada um de nós. Esta escolha levará em consideração diversos fatores, alguns mais racionais e outros mais emocionais, mas acima de tudo, esta escolha refletirá também as convicções de cada um. Estas convicções, por estarem tão enraizadas no mais profundo intimo da mente, serão a base que constituirá a fé desta pessoa, independente de qual escolha faça. Tão importante quanto o direito de escolher é também o direto de ser respeitada esta escolha, independente do quão conflitante possa parecer aos olhos de outrem. Neste sentido, encontramos um relato comovente do direto de ser respeitada a escolha de cada um de nós, no livro Bilhões e Bilhões – Reflexões sobre Vida e Morte na virada do Milênio (Carl Sagan, Ed. Companhia das Letras 1998).


O livro é composto de 19 artigos sobre os mais variados temas, onde o professor de astronomia e um dos maiores divulgadores da ciência de todos os tempos, o americano Carl Sagan (1934 – 1996), discorre sobre política, meio-ambiente e ética, de modo inteligente e profundo. Porém o que mais emociona (e porque não também dizer, nos ensina) neste livro é o epílogo, onde a mulher deste eminente astrônomo, a Sra. Ann Druyan, relata seus últimos momentos ao lado do seu grande amor, de forma muito poética e apaixonada. Nesta sua dedicação ao grande amor de sua vida, podemos ver um lindo e comovente depoimento de fé. Abaixo um trecho que foi destacado na contra capa do livro:


 





“Com suas revelações sobre um pequenino mundo embelezado pela música e pelo amor, a nave Voyager já saiu do sistema solar e se dirige ao mar aberto do espaço interestelar. A uma velocidade de 70 mil quilômetros por hora, projeta-se em direção às estrelas e a um destino com o qual só poderemos sonhar. Estou cercada por pacotes do correio, cartas de pessoas de todo o planeta que lamentam a perda de Carl. Muitos lhe dão o crédito por tê-los despertado. Alguns dizem que o exemplo de Carl os inspirou a trabalhar pela ciência e pela razão contra as forças das superstição e do fundamentalismo. Esses pensamentos me consolam e em resgatam de minha dor. Permitem que eu sinta, sem recorrer ao sobrenatural, que Carl vive.”


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