sábado, 4 de agosto de 2018

Primeiro primeiro encontro

Linda sempre soube que ela era, mas quem era ela?

Nossas primeiras palavras vieram banhadas em sorrisos, esses talvez oriundos apenas do nervosismo, mas ainda assim entregavam alguma felicidade.

Ela procurava ao redor um restaurante…
Eu não procurava mais nada, pois a havia encontrado.

Dizem que as mulheres sentem a coragem de um homem, e quanto menos confiante, menos atraente. Que elas precisam se sentir seguras para se soltarem e que tudo que o homem pode fazer é mostrar o seu melhor e deixar que a mulher o escolha. O que ninguém havia me dito era que na frente da pessoa certa, nenhuma teoria importava mais….

Eu havia decorado as regras do manual, mas a essa altura, já havia feito tudo errado.
Convidei ela para entrar na minha casa, quando sabia que deveria ir em um ambiente público.
Já no shopping, andava na frente dela, correndo, falava rápido e gaguejando. Se ela falou algo, jamais vou saber porque estava assustado demais para ouvir.

Pensei, em demonstrar cultura, e dizer que seus lábios eram perfeitamente desenhados para adornar uma face divina, talvez esculpidos pelo próprio Éfeso. Mas acho que saiu apenas, um “que boca linda” ou algo ainda pior.

Tentei falar sobre signos, mulheres adoram signos, mas ela pareceu me dizer com um olhar, algo do tipo:
"Eu acho divertido signos, mas vc tá levando a sério demais."
E assim começou as lições de vida que aprendo com ela. Achava eu que a beleza farta, teria corrompido qualquer virtude, e estaria diante de uma garota fútil. Cabelos brancos definitivamente não são sinônimo de sabedoria. E silhuetas atraentes, podem vir acompanhadas de um espírito encantador.

Foi uma das coisas que aprendi.




















Ela sorria, brincava e arrancava de mim, as minhas verdades… mas quanto mais eu falava, mais envolvido estava nos encantos dela. Ela era curiosa, sedenta por conhecimentos e experiências, e sua sede me embriagava... 

Ela era uma promessa do paraíso, uma canção para o Nirvana, uma fenda para o infinito… Mas parceria que ela não sabia de tudo isso.

Não sabia que eu a desejava todinha…

Desejava seus tornozelos e subindo suas pernas, desejava ainda mais suas coxas.
Desejava seu pescoço, e lambendo-a, desejava sentir a maciez dos seus seios.
Desejava suas costas, e descendo.. sentindo o arrepio da sua cintura.. desejava me adentrar por suas….


Não sei se foi nesse momento que falei a mais não aconselhável piada de toda a minha vida….

Dizia o manual que uma mulher gosta de rir. Bem, a natureza me privou de algumas coisas, e a arte de contar piadas foi uma delas… narrando a decadência moral da TV brasileira.. em uma série de evoluções de quebras de tabus sexuais, acabei pronunciando uma frase, que só tive coragem de narrar ao pé do ouvido e que me recuso transcrever.

Se ela ria por compaixão ou vergonha alheia, não sei.. mas que falar sobre sexualidade talvez tenha acendido uma chama… e mal sabia eu o quanto isso tudo ainda iria queimar no futuro. E foi assim, falando coisas naturalmente, aproveitando os sabores do restaurante e a agradável companhia dela, uma companhia presente e atenta ao momento, que nos deliciamos naqueles instantes.

Divertido, rápido e com gostinho de que precisamos de mais.. que logo estávamos no Uber… indo embora. Os dois no banco de trás, ela em um extremo e eu do outro, olhando as luzes da cidade, chovia, apesar de que há um minuto estávamos na rua em frente ao shopping e nem uma gota havia se precipitado do céu aquela noite, ainda assim as luzes apareciam todas borradas na janela molhada, por onde as gotas escorriam e davam um ar de melancolia e fim de festa.

Porque malditos diabos tocava Celine Dion naquele Uber eu jamais saberei. Mas meu coração derretia por saber que estava para me despedir da mais encantadora alma que cruzará meu caminho… e sem exageros, sabia, como soube desde o primeiro dia que a vi, que ela era a deusa que rondava meus sonhos desde o início dos tempos…

Voltei para realidade com um toque dela na minha perna… ou um “psiu”.. ou talvez com ela atraindo minha atenção com sua telepatia ou algum outro poder místico que ainda desconheço. O que sei é que ela sabia que eu havia me encantado, pois ela mesmo disse que percebeu:

“pelo jeito que segurou minha mão”.

O motorista do Uber deve ter percebido também, pois no instante que nossas mãos se tocaram Pharrell Williams começou a animar o ambiente….

Eu olhava para ela… foi a primeira vez que a vi me olhando com a cabeça baixa e olhos para cima… um jeitinho de olhar só dela… um quê de inocência com malícia, e sempre que a vejo assim, sinto uma mistura de carinho e excitação.

E quando voltei a olhar pela janela, vi pessoas dançando, a chuva havia parado e as flores haviam desabrochado… um cachorro rebolava sob um carrinho do catador de papel, que deveria estar sintonizado na mesma rádio, pois ele batia palmas e dançava em perfeita sincronia com a música.

Foi qndo paramos em frente a minha casa.  Não dava tempo de mais nada. Apenas uma despedida rápida, com um pequeno encontro de lábios na velocidade da luz, mas que sei se demoraram ao se tocarem, pois ouvi que a música foi desacelerando, os carros lá fora diminuíram drasticamente suas velocidades, um transeunte erguia sua perna em câmera lenta...

Eu sentia os lábios ( e talvez um pouquinho dos dentes, afinal é difícil frear quando se está se movimentando na velocidade da luz).

Em seguida tudo voltou a se acelerar, desci do carro que arrancou rapidamente… por sorte deveria estar rolando uma festa em algum vizinho, pois aquela trilha sonora persistia enquanto entrava em meu lar saltitando e dançando como no clipe:

♫ Because I'm happy ♪♫





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