quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Caminhada

Aquele Sol fraco de início de inverno, não aquece muito, mas cria uma paisagem muito bela. As pessoas no parque correndo, bem agasalhadas, com roupas de cores gritantes que tentam manter o conforto e a elegância, lhe eram agradáveis aos olhos. Existe um chame em correr no parque no frio.

Fazia um pouco mais de 20 dias que Jonas não fumava. Desta vez, ao contrário do que fora há 3 anos quando conseguiu se libertar pela primeira vez, do que ele chamava de prisão do vicio, estava mais fácil. Sim, era um esforço, mas este esforço não consumia muito dos seus pensamentos. Ele pensava mais sobre um relacionamento eterno, que acabará prematuramente há alguns semanas.

Suas pernas estavam cansadas, mas seu folego estava intacto, o que o motivava a continuar mesmo as pernas querendo ceder. Estava um pouco acima do peso, o que considerava ser a próxima batalha a ser travada, assim que não precisasse mais do adesivos de nicotina. Continuou a caminhar. Passou a reparar mais na paisagem, fora neste parque que a alguns meses conhecerá pessoalmente a dona dos seus atuais pensamentos. Foi um encontrado marcado por um destes aplicativos de relacionamento. Nossa, como deveria ser difícil a vida antes destes aplicativos. Ficou feliz de pensar que vivia nesta época, imaginando que pessoas tímidas como ele, têm neste tipo de aplicativo, a oportunidade de se conhecer pessoas que de outra forma jamais se conectariam.

Esta caminhada. era um desafio duplo, levantar e se mexer, mesmo com o corpo pedindo para ficar deitado no sofá, era o desafio físico. Mas passar alguns minutos sem nenhum tipo de distração para mente era desafio maior. Por estar se sentindo sozinho, desde que deixou de se encontrar com ela, e como forma de se auto motivar, ele gravava áudios comentando sobre seus problemas e ouvia quando estava dirigindo, antes de dormir e quando saia para caminhar. Sempre fizera isto, mas ultimamente, com a quantidade de sentimentos conflitantes que estava sentindo, gravava e se ouvia muito mais. Desta vez, ele não levou seu fone de ouvido, estava sozinho, como seus antepassados, caminhando em meio as matas, sem nada para o distrair, apenas seus sentidos a observar o mundo ao seu redor. Na verdade era um parque bem moderno e conhecido, com a grama bem cortada e um belo paisagismo, mas gostava de imaginar-se na selva com perigos inimagináveis. De certa forma era, talvez por algum trauma de infância, qualquer roedor ou cachorro que se aproximava, o fazia ficar sem folego, gelado e atento, igual há milhões de anos algum ancestral deveria ter ficado ao visualizar um tigre dentes de sabre. "Sou fruto da evolução." - pensou, tentando amenizar sua vergonha solitária por ser tão medroso, afinal, os muitos corajosos morreram e não deixaram descendentes.

Ficar sozinho é algo tão inacreditavelmente difícil. Deve ser algo da nossa natureza, um instinto que nos impulsona a fazer algo. É isto que nos fez descobrir o fogo, observar o crescimento das plantas e dominar o uso das sementes. Lascar pedras, criar lanças e punhais. Correr atrás de Mamutes, matar, temperar com as ervas cultivadas e comer. Construir casas, pontes, navios, auto estradas, aviões e satélites. Um homem morre, mas a humanidade continua a fazer coisas, ir para lugares e com o tempo talvez o Universo seja pequeno de mais para tudo que podemos fazer e para onde podemos ir.

Como nossa mente viaja. Ficar sozinho é dar liberdade para mente, e ela não respeita tempo ou espaço. Mas de todo o universo e de todas as épocas possíveis de se estar viajando com a imaginação, apenas os momentos com ela estão sendo revividos. "Mas que droga, era para eu sentir falta do cigarro, pensar em algo sobre o trabalho, sobre a série que estou assistindo ou sobre a garota que quer sair comigo hoje a noite, mas só penso nela" - pensou. Ele queria seus áudios de volta. Com eles, não se sentia sozinho. Já pensara antes se talvez estivesse ficando louco. Falar sozinho, gravando e ouvindo ainda. "Seria algum tipo de demência!?" Bem, ele falava com alguém que provavelmente era real. "Eu existo, ao menos até onde consigo perceber, eu existo. Muitos falam com seres que não existem. Chamam isto de rezar. Acho que estou melhor que eles".

A solidão com a qual conviveu a maior parte do tempo, foi intensificada quando se descobriu ateu. E o fato da grande maioria das pessoas acreditarem em coisas que Jonas a tempos não vê mais sentido algum, faz com que os diálogos muitas vezes fiquem totalmente sem sentido. Enquanto ele busca entender o mundo e entender a si mesmo, as pessoas respondem as perguntas mais importantes com frases vagas e definitivas, dizendo que seja o que Deus quiser. Está na mão de Deus. Deus sabe o que faz. "Quem é este Deus? O fato de ele saber, se é que ele existe ou sabe, me ajudou em que a eu  mesmo compreender?". Mais uma vez pensou nela. Jonas se divertia muito falando com ela. Ela questionava a sua certeza de que não existe deuses. Ela dizia que ele estava fechado a novas formas de pensar. Isto o irritava muito, mas gostava de debater. Gostava de dizer para ela que se alguém fizesse brilhar um fogo em suas mãos, se mover sem tocar o chão - flutuando no ar ou qualquer coisa do tipo, ele seria o primeiro a se abrir para novas formas de pensar, mas alegar a existência de algo que não pode ser tocado, sentido, visto ou cheirado de qualquer forma, era algo que não poderia conceber.

Terminou. Finalmente o percurso terminou. Seu corpo estava quente. Poderia tirar a blusa e a touca. Mas sabia que seu calor corporal já estava se dissipando. Em poucos minutos o frio tomaria conta de novo. Se dirigiu ao carro. Tinha vencido mais uma etapa desta sua jornada solitária rumo a algum lugar que nem sabia onde era. Estava dominando seu corpo e sua mente. Mas que benefícios reais isto traria era algo que ele ainda não sabia. Sua vontade era estar com ela, acender um cigarro e ser feliz. Foda-se isso de dominar o corpo e a mente. "Quem foi o maldito que inventou isto?" - perguntava a si mesmo enquanto ligava o carro.

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