terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Significado do Mito - Jose Camphell

Relato de Josep Campbell

Deixe-me começar, explicando a história de meu impulso  para colocar a metáfora no centro de nossa exploração da espiritualidade ocidental.

Quando o primeiro volume do meu “Historical Atlas of World Mythology: The Way of Animal Powers” foi publicado, os editores me enviaram numa turnê publicitária. É o pior tipo de turnê possível porque você tem de se encontrar, sem a menor vontade, com locutores de rádio e repórteres, eles próprios indispostos a ler o livro sobre o qual devem conversar com o entrevistado, para gerar visibilidade.

A primeira pergunta que faziam era sempre: “O que é um mito?” É um bom começo para uma conversa inteligente. Em uma cidade, porém, entrei em uma estação de rádio para um programa de meia hora, ao vivo, em que o entrevistador era um jovem com ar de astuto e que imediatamente me alertou: “Sou difícil, já vou lhe avisando. Estudei Direito.”

A luz vermelha acendeu e ele começou, argumentativo: “A palavra ‘mito’ significa ‘uma mentira’. Mito é uma mentira.” Repliquei com a minha definição de mito. “Não, mito não é uma mentira. Uma mitologia completa é uma organização de imagens e narrativas simbólicas, metafóricas das possibilidades de experiência humana e da realização de determinada cultura em certo momento.”

“É uma mentira”, ele retrucou.
“É uma metáfora.”
“É uma mentira.”

Isso continuou por uns vinte minutos. Quatro ou cinco minutos antes do fim do programa, percebi que o entrevistador não sabia o que era uma metáfora. Resolvi tratá-lo da mesma maneira como estava sendo tratado.

“Não”, eu disse. “Eu lhe digo o que é metafórico. Dê-me um exemplo de metáfora.”
Ele respondeu: “Dê-me você um exemplo.”

Eu resisti. “Não, agora eu estou fazendo a pergunta.” Eu não tinha lecionado por trinta anos à toa. “E eu quero que você me dê um exemplo de uma metáfora.”

O entrevistador ficou totalmente pasmo e chegou a dizer: “Vamos chamar um professor”. Finalmente, depois de um minuto e meio, ele se recompôs e disse: “Vou tentar. Meu amigo John corre muito. Dizem que ele corre como um veado. Isso é uma metáfora.”

Enquanto se passavam os últimos segundos da entrevista, eu repliquei. “Isso não é uma metáfora. A metáfora seria: John é um veado.”

Ele revidou: “Isso é uma mentira.”

“Não”, eu disse. “Isso é uma metáfora.”

E  o programa terminou. O que esse incidente sugere sobre a nossa compreensão de metáfora?

Ele me fez refletir que metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos. E a outra metade afirma que não são fatos, de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos que se consideram fiéis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros que se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras.
 

Isto é o mais próximo de uma prova de que o Livro Deus, um delirio está errado, que já encontrei. O nome do livro correto seria, na visão de Campbell: Deus, uma metáfora. Admito, considerando o argumento de Campbell, somente a fé cega dos fiéis está errada. Talvez somente a forma com que as coisas são ditas e entendidas, normalmente, quando se fala em religião, é que esteja errada. Mas o fato de Deus ser uma metáfora quer dizer que ele existe ou não????

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nove Amanhãs - Isaac Asimov

Muitos pensadores influenciaram o surgimento deste blog. Mas o maior de todos foi o grande escritor de Ficção Científica Isaac Asimov. Infelizmente muito da sua visão, que vai além da capacidade de prever os avanços tecnológicos, não é conhecida do grande público de leitores de FC.

Isaac é acima de tudo um humanista e alguém que refletiu a fundo sobre a vida e as formulas prontas que nos são apresentadas como verdades absolutas. Neste ponto, Asimov é também um filosófo. Também, como ele mesmo dizia, sua obra era uma forma de divulgar a ciência.

Assim é emocionante ver uma declaração de carinho e respeito como a encontrada no artigo do Paragráfo.org o qual destacamos pequeno trecho a seguir:

Fiquei boquiaberto quando soube que um homem como ele, com sua clareza de idéias, humildade e sabedoria, era ateu. [...] Fico pensando se o mundo não estaria precisando de mais “ateus” como ele.



Artigo completo:

    Mais sobre Isaac:

      1 Conto completo de Isaac Asimov:


        ...

        A Filosofia atualmente

        A filosofia surgiu aproximadamente setecentos anos antes de Cristo, como uma interpretação da realidade com base na observação e lógica, distanciando-se das interpretações sacras oriundas dos mitos religiosos. A mãe de todas as ciências, a filosofia, que nos remete automaticamente aos grandes pensadores gregos, pode ser considerada a religião moderna e suas implicações não estão somente ligadas ao mundo dos antigos.


         



        Abaixo uma contribuição magnifica para atrair a atenção dos jovens para um dos maiores filósofos de todos os tempos, Platão, e o seu mito da Caverna:


         

        CONTINUE A HISTÓRIA


        ...

        segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

        Orwelliano (comercial da Apple e aprendizagem)

        É incrivel como certas coisas nunca foram percebidas até o dia em que a conhecemos pela primeira vez e desde então, volta e meia, a encontramos novamente. Você nunca tinha visto antes, se estavam lá, se a viu, nem percebeu. Não tive a oportunidade de ler o Hobbit, de JRR Tolkien, mas estes dias abri o livro e li a primeira frase com que ele começa. Foi o suficiente para me deparar com um artigo que começa com esta descrição que você acabou de ler. Assustador!

        Como quando você compra um raríssimo carro da marca tal modelo X, que mal conhecia e agora você descobre que um vizinho do tio também tem, no caminho do trabalho sempre tem um estacionado e volta e meia aparece um no transito.  Mas não era raríssimo?

        O Carro já existia, estava lá, você nunca tinha dado bola até que compra um e agora repara em todos o que aparecem pela frente. As vezes você faz a descoberta do século. Um website onde um genio (Aknator) advinha a personalidade que você pensou. Ai quando vai mostrar aos amigos eles já sabiam faz tempo. Dois dias depois você recebe um e-mail com um link para o site. Ve umas pessoas comentando sobre ele no corredor da faculdade.

        Meu exemplo mais recente é o filme publicitário de lançamento do computador pessoal, o Macintosh, da Apple, que foi vinculado em 1984 durante o intervalo do Super Bowl. Considerado um marco para história da publicidade e que impressiona pelos numeros até hoje. Até recentemente nunca havia tido a oportunidade de conhecer esta história. Agora já me deparo com ela regularmente. O filme é belo (principalmente para um filme que tem a minha idade), é um marco para publicidade e também para o mundo dos computadores.

        Pouca coisa vai mudar na sua vida agora que conhece este marco de criatividade - salvo os publicitários - a não ser o fato de que vai se deparar com ela logo em breve e em outros lugares. Se já conhecia encontrou de novo! Porém existem coisas importantes que nos foram apresentadas, que chegamos a conhecer e esquecemos completamente e que seriam importantes reconhecer. Somente após vivenciar a informação é que ela passara a ser reconhecida quando deparar com algo igual no caminho (comprar um carro é uma vivencia bem maior do que apenas ouvir falar uma descrição dele).

        Fazendo uma pesquisa sobre livros digitais encontrei uma reportagem que criticava a posição da Apple de utilizar o DRM para restringir a utilização de qualquer software que não seja licenciado pela Apple Store, condenando esta atitude, dizendo que é um caminho para um totalitarismo maior que o cenário Orwelliano retratado em sua famosa peça publicitária.

        Orwe.. o que? Bem, talvez já tenha ouvido falar em alguem lugar esta palavra, mas não se lembra. Se aprender seu significado, aprenderá a reconhece-lá em varios textos. Logo ficará admirado de não ouvir falr dela antes! Porém para aprender, eu a estou vivenciando através desta crônica o que realmente significa este adjetivo.

        George Orwell (1903-1950) foi um jornalista e escritor que dentre outros livros tem o clássico Revolução dos Bichos. A história se passa na Granja do Solar, onde o Sr. Jones dono da Granja, explorava os animais para obter lucro e em troca les dava alimento, muitas vezes precário. George Orwell consegue através de sua alegoria mostrar como surgem e funcionam os sistemas totalitários devido as traços de personalidade humanos.

        O Orwell captou muito cedo e demonstrou de forma muito elegante suas idéias sobre a manipulação da palavra feita por governos, dando origem ao adjetivo Orwellismo. conforme trecho da Biblioteca Folha:

        Usa-se "orwelliano" como adjetivo pejorativo, para evocar o terror totalitário, a falsificação da história por meio da mentira organizada pelos Estados e, de modo mais licencioso, qualquer exemplo desagradável de repressão ou manipulação. Como substantivo, utiliza-se para denominar um admirador ou seguidor consciente de sua obra. Ocasionalmente se emprega como adjetivo elogioso, significando algo como "que exibe franca honestidade intelectual, como Orwell".


        Se nem todos vão conhecer a fundo as obras de Orwell, como recomenda-se tanto pela importância histórica como pela capacidade de fazer literatura onde a política e a arte se misturam, que ao menos estejamos atentos ao significado altamente pejorativo que chama a atenção quando, em homenagem ao escritor, emprestamos seu sobrenome a algo.

        Para ajudar a sua vivencia e interiorização, para que reconheça os "Orwelianos" que ainda vão aparecer na sua vida, veja o filme do famoso comercial, uma alegoria que exemplifica, e pode ser mais marcante que apenas ouvir dizer algo sobre totalitarismo:




        Fontes:

        1984 (comercial)
        Apple Ipad
        Biblioteca Folha